Bugs são inevitáveis no desenvolvimento de software. Não importa o quão experiente seja o time ou quão robustos sejam os processos, em algum momento, algo vai quebrar. Dentro disso, é importante para o profissional de QA e tester como reportar esses bugs da melhor forma para serem corrigidos.
Um bug report vago (“não funciona”, “está com erro”, “bugou aqui”) gera retrabalho, frustra desenvolvedores e atrasa correções. Por outro lado, um report bem estruturado acelera todo o ciclo de desenvolvimento e aumenta drasticamente as chances de que o problema seja resolvido na primeira tentativa.
Reportar bugs é uma habilidade. E como toda habilidade, pode ser aprendida e aprimorada. Este guia vai mostrar como criar reports que realmente ajudam seu time a resolver problemas de forma rápida e eficiente. Vamos lá?
Por que um bom bug report é importante?
Cem Kaner, uma das referências mundiais em testes de software, resumiu bem: “A ideia em escrever um relatório de erros é ter os bugs corrigidos”. Parece óbvio, certo? Só que, na prática, muitos reports acabam sendo rejeitados, ignorados ou devolvidos para o QA porque faltam informações básicas.
Reports ruins dificultam o entendimento do problema e podem gerar soluções com novos problemas devido ao mau entendimento do texto. Segundo um estudo da IBM System Sciences Institute, corrigir um bug encontrado após o lançamento do produto pode custar até 100 vezes mais do que se tivesse sido detectado na fase de design. Quando o report é mal feito, esse custo aumenta ainda mais, porque o desenvolvedor perde tempo tentando entender o que realmente aconteceu.
Um bug report importa pois é uma ferramenta de trabalho que documenta um comportamento inesperado e fornece ao time de desenvolvimento tudo que ele precisa para reproduzir, entender e corrigir o problema.
Siga um padrão (e convença o time a fazer o mesmo)
Antes de pensar no conteúdo do seu report, pense na estrutura. Times que seguem um padrão claro para documentar bugs economizam tempo, evitam confusão e facilitam a catalogação de problemas.
Se a sua empresa já tem um padrão definido, ótimo. Siga ele à risca. Se não tem, é hora de criar um em conjunto com o time. Aqui estão alguns formatos populares que podem servir de inspiração:
- Padrão clássico: divide o report em seções como título, descrição, passos para reproduzir, comportamento esperado, comportamento atual e informações adicionais. É direto, objetivo e funciona bem em ferramentas como JIRA e Bugzilla.
- Formato de User Story: alguns times preferem relatar bugs no formato de histórias do usuário: “Como [tipo de usuário], quero [ação], para que [resultado desejado]”. Esse modelo é útil para focar na experiência do usuário e é comum em metodologias ágeis (Trello, Azure DevOps).
- Relatório de incidente: usado em ambientes corporativos mais formais, inclui não apenas o problema em si, como também causa-raiz e soluções propostas. Ferramentas como Confluence são ótimas para hospedar esse tipo de documentação.
O importante é escolher um formato e ser consistente. A padronização facilita tanto para quem escreve quanto para quem lê.
Estrutura essencial de um bug report eficiente
Agora vamos ao que realmente importa: como montar um bug report que funcione. Vamos por partes.
Comece pelo básico
Todo report precisa começar com três informações fundamentais:
Título descritivo: Resuma o problema de forma clara e específica. Um bom título já dá contexto suficiente para que o desenvolvedor saiba do que se trata antes mesmo de abrir o report.
Exemplo:
- ❌ Ruim: “Erro no login”
- ✅ Bom: “[DEV] [HML] Credenciais válidas não são reconhecidas na página de login”
Versão do software: Indique a versão exata onde o bug foi encontrado. Isso é crucial porque uma correção pode já ter sido feita em versões mais recentes, ou o problema pode estar relacionado a uma mudança específica.
Ambiente: Especifique onde o bug ocorreu, desenvolvimento, homologação, produção. Bugs que aparecem em um ambiente podem não se manifestar em outros, e essa informação direciona a investigação.
Descrição detalhada do problema
Aqui você vai contextualizar o que aconteceu. A regra é simples: seja objetivo e descritivo. Explique o que você esperava que acontecesse e o que realmente aconteceu.
Exemplo:
“Ao tentar fazer login com credenciais válidas (usuário: teste@empresa.com / senha: Senha123), o sistema não reconhece os dados e retorna uma mensagem de erro ‘Erro de autenticação’. O esperado seria o redirecionamento para o painel principal do usuário.”
Evite jargões desnecessários e não presuma que o desenvolvedor tem conhecimento prévio do contexto. O seu report pode ser lido por alguém novo no time ou por alguém que não está familiarizado com aquele módulo específico.
Passos para reproduzir: o coração do report
Essa é a seção mais importante do seu bug report. Se o desenvolvedor não conseguir reproduzir o problema, ele não conseguirá corrigir. Simples assim.
Liste os passos de forma numerada, sequencial e detalhada. Inclua o estado inicial, com perguntas como o usuário estava logado? Havia dados preenchidos? Alguma configuração específica estava ativa?
Exemplo:
- Abrir o navegador Google Chrome (versão 131.0.6778.86)
- Acessar a página de login em https://app.empresa.com/login
- Inserir o e-mail: teste@empresa.com
- Inserir a senha: Senha123
- Clicar no botão “Entrar”
- Observar a mensagem de erro exibida
Quanto mais específico você for, melhor. Se o bug é intermitente, documente todas as variáveis que você conseguir identificar, horário do dia, volume de acessos, navegador, tipo de conexão, etc.
Resultado esperado vs. resultado real
Faça essa comparação de forma explícita. Isso elimina ambiguidade e deixa claro qual é o desvio de comportamento.
Exemplo:
Esperado: após clicar em “Entrar”, o usuário deve ser redirecionado para o painel principal em /dashboard.
Real: o sistema exibe a mensagem “Erro de autenticação” e permanece na tela de login.

Evidências
Capturas de tela, gravações, GIFs animados e logs são seus melhores aliados. Eles eliminam dúvidas e aceleram o diagnóstico. Ao relatar um bug de software, se possível, anexe as evidências com as capturas de tela, gravações ou até mesmo GIFs que mostram o problema.
Dica prática: ao fazer um print, destaque o problema com uma seta ou círculo vermelho. Parece bobagem, principalmente quando o erro é óbvio para você. Porém, para quem está analisando dezenas de reports, essa marcação visual faz diferença.
Se o bug gerou logs de erro no console do navegador ou no backend, inclua-os também. Logs são ouro para desenvolvedores porque apontam diretamente para a origem técnica do problema.
Contexto adicional: informação nunca é demais
Quanto mais contexto você fornecer, melhor. Aqui entram detalhes que podem parecer secundários, porém muitas vezes são a chave para entender o problema:
Frequência: o bug acontece toda vez que você tenta reproduzir ou só ocasionalmente? Se for intermitente, em quantas tentativas ele apareceu?
Prioridade e severidade: avalie o impacto no usuário e no sistema. Um bug que impede login é crítico. Um botão desalinhado é baixo. Essa avaliação ajuda o time a priorizar correções.
Ambiente específico: o problema acontece só em determinadas circunstâncias? Por exemplo, apenas para usuários admin, ou só quando há mais de 100 registros na lista?
Navegadores e sistemas operacionais afetados: liste onde você identificou o problema. Exemplo: “Reproduzido no Google Chrome 131.0.6778.86, Windows 11. Não ocorre no Firefox 115.0.”
Histórico de eventos: se possível, relate ações anteriores que possam estar relacionadas. Exemplo: “O bug começou a acontecer logo após o deploy da versão 2.1.0.”
Exemplo completo de contexto adicional:
“Frequência: Ocorre consistentemente em 10 de 10 tentativas.
Prioridade: Média. Afeta todos os usuários, porém há solução alternativa via recuperação de senha.
Navegador: Google Chrome 131.0.6778.86
Sistema operacional: Windows 11 Pro
Observação: O bug não ocorre no ambiente de produção, apenas em dev e homologação.”
ID único para cada bug: a maioria das ferramentas de gestão de bugs (JIRA, Azure DevOps, Bugzilla) gera automaticamente um identificador único para cada report. Esse ID facilita o rastreamento, a referência em conversas e a organização do histórico de correções.
Se a sua ferramenta não faz isso automaticamente, considere criar uma convenção de nomenclatura. Exemplo: BUG-LOGIN-001, BUG-CHECKOUT-042, etc.
O que evitar ao escrever um bug report
Tão importante quanto saber o que fazer é saber o que não fazer. Aqui estão os erros mais comuns que sabotam a eficácia de um bug report:
- Descrições vagas: “está com erro”, “não funciona”, etc, essas descrições não ajudam ninguém. Seja sempre específico sobre o que aconteceu.
- Misturar múltiplos bugs em um único report: um problema para cada report. Se você identificou três bugs diferentes na mesma tela, crie três reports separados. Isso facilita o rastreamento, a priorização e permite que diferentes desenvolvedores trabalhem em paralelo.
- Confundir bug com melhoria: nem tudo que incomoda é um bug. Um bug acontece quando o sistema quebra uma expectativa conhecida pelo time (descrita em especificação, regra de negócio ou comportamento acordado). Uma melhoria é quando o comportamento não atende a sua expectativa pessoal, porém não foi prometido de outra forma.
- Linguagem confusa ou prolixidade: seja claro, objetivo e direto ao ponto. Ortografia e concordância também importam, um texto bem escrito transmite profissionalismo e facilita a compreensão.
- Esquecer de verificar duplicatas: antes de criar um novo report, procure na ferramenta se o bug já foi registrado. Duplicatas criam trabalho desnecessário e poluem o backlog.

A mudança de mindset: de reativo para preventivo
Bug reports são essenciais. Porém, existe algo ainda melhor do que reportar bugs de forma eficiente: prevenir que eles cheguem até você.
Um estudo da Consortium for IT Software Quality estimou que, em 2022, bugs de software custaram à economia dos EUA cerca de US$ 2,41 trilhões. A maior parte desse custo vem de falhas que poderiam ter sido detectadas antes de chegarem à produção.
A diferença entre reportar um bug depois que ele aconteceu e detectá-lo antes que chegue ao usuário final é enorme, tanto em termos de custo quanto de reputação da empresa.
TestBooster.ai: prevenção inteligente com automação de testes
Se você chegou até aqui, já sabe como escrever bug reports que realmente funcionam. Agora, que tal dar um passo além e começar a prevenir esses bugs ao invés de apenas reportá-los depois?
O TestBooster.ai é uma plataforma SaaS que automatiza testes de software com inteligência artificial e funciona como um quality hub, uma central única de qualidade para o seu time.
A ideia é simples: o resultado dos testes saem em tempo real, com a descrição das etapas e de onde ocorreu o erro feito inteiramente pela IA.
Conheça o TestBooster.ai e comece a prevenir bugs e a facilitar possíveis reports. Acesse TestBooster.ai e descubra como automatizar testes de forma inteligente.






